Preservação do Paço Municipal

Página  PRESERVAÇÃO PAÇO MUNICIPAL

Esta página trata dos assuntos relativos à história
e à preservação da edificação do
Paço Municipal de Cachoeira do Sul


         
           A historiadora Miriam Ritzel nos enviou algumas imagens do início do século passado registrando o Paço Municipal ainda em seu estado original, antes da modificação das portas frontal e lateral assim como das janelas laterais. O prédio histórico também aparece ao lado do segundo teatro de Cachoeira do Sul:


Todas as imagens podem ser copiadas para divulgação, desde que citadas as fontes.

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                                                                   Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
                                                                 Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
                                                                Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
                                                                Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
                                                                   Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
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No Natal de 1900, Cachoeira inaugurava seu Teatro Municipal, ao lado do Paço
Fotos: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
      Interessante ressaltar a importância dos teatros na vida cultural de Cachoeira doSul – e de resto das grandes cidades brasileiras. E Cachoeira era uma delas naquele início do século XX. O Teatro Municipal era o segundo construído pelo povo cachoeirense. Do primeiro, inaugurado em 1830, pouca notícia se tem:
     

        A documentação administrativa do Município, resguardada e mantida pelo Arquivo Histórico, preserva a ata do dia da inauguração, 27 de abril de 1830, e traz referências ao “entremez” que foi levado à cena na noite em que o pano do palco abriu-se pela primeira vez. Sabe-se que o prédio que abrigou esse pequeno teatro permaneceu ao lado da Prefeitura, onde hoje se localizam os jardins do Paço Municipal, até o final do século XIX.



       O Teatro Municipal, construído através da venda de apólices resgatáveis emitidas pela Intendência Municipal, teve como programa inaugural atividade organizada pela Maçonaria, com solenidade aberta e dedicada principalmente às crianças, incluindo celebração de batizados maçônicos.
      Prédio imponente, construído com esmero e detalhes arquitetônicos inspirados na cultura greco-romana, não se destinava apenas às apresentações dramáticas e muitas vezes se servia da passagem de grandes companhias de teatro vindas de Buenos Aires e outras capitais pelas estradas de ferro, posto ser então Cachoeira uma das estações da linha Porto Alegre – Uruguaiana. Sua construção também objetivava atender às necessidades culturais do povo, servindo suas instalações para reuniões diversas, salão de festas e para bailes. O primeiro baile foi organizado pela Sociedade União Cachoeirense já por ocasião da sua inauguração.
     Também serviram as dependências do Teatro Municipal para as apresentações dos cinematógrafos, espécie de precursores do cinema, grande febre da aurora do século XX.
       Mas a vida do nosso Municipal estava fadada a ser breve. Já em 1902 a imprensa registrava rumores sobre a solidez do prédio. Em 1908 o telhado ruiu. Cinco anos depois a municipalidade transferiu o prédio para o Estado que nele instalou, em 1915, o Colégio Elementar e o Fórum. Para as adaptações necessárias, foram demolidos os camarotes e o palco. Paredes foram erguidas em seu interior para acomodá-lo ao seu derradeiro destino.
      Na década de 1960, o velho prédio do Teatro Municipal, extinto em suas funções originais e já bastante descaracterizado, foi posto ao chão. No seu lugar foi sendo construído aos poucos um prédio em estilo moderno, bem ao gosto da época, para abrigar a Escola Antônio Vicente da Fontoura.
      A mão do homem apagou da paisagem urbana os nossos dois teatros, tirando de Cachoeira do Sul a primazia da construção desse tipo de espaço no Rio Grande do Sul, posto desde então ocupado por Pelotas com o seu Sete de Abril, inaugurado em 1831.
Mirian R. M. Ritzel
      
Texto publicado originalmente no Blog História de Cachoeira do Sul

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                                                                 Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul
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        A Profª Mirian Ritzel também enviou o texto abaixo, que trata de um parecer sobre a conclusão das obras de construção da Casa de Câmara e Cadeia (como era conhecido o Paço Municipal de Cachoeira do Sul, no seu início), datado de junho de 1865:

                                                                   Foto: Museu Municipal de Cachoeira do Sul

Província de São Pedro do Rio Grande do Sul

Palácio do Governo em Porto Alegre, 16 de junho de 1865

Transmitindo a V. Mercês a inclusa cópia do parecer que deu o Engenheiro civil
Francisco Nunes de Miranda, relativamente ao exame que procedeu na obra da casa para as
sessões dessa Câmara, do Júri e Cadeia, convém que V. Mcês. considerem a obra por
executada pelo respectivo empreiteiro, logo que ele termine as obras indicadas nas
observações 4ª, 8ª, 9ª, 10ª, 15ª e 16ª do dito parecer.

Deus guarde V.Mcês.

Ilmo. Exmo. Sr.

Tendo em cumprimento da ordem de V. Exª datada de 12 de maio do corrente ano examinado
as obras da Casa da Câmara, Júri e Cadeia da Cidade da Cachoeira, a fim de conhecer se o seu
arrematante, o Sr. Firminiano Pereira Soares, cumpriu as condições do seu contrato que me foi
enviado e que devolvo, venho dar conta a V. Exª do resultado dessa comissão.

V.Exª verá pelas seguintes observações que as obras projetadas sofreram na execução
diversas alterações ora a favor, ora em prejuízo das mesmas obras:

1ª – O gradil das escadas da sala da Câmara foi substituído por outro mais belo e igualmente
sólido.
2ª – As escadas de pedra às entradas da frente eram oitavadas no projeto e foram construídas
de forma redonda. (Não há inconveniente).
3ª – O pátio formado pelo muro que rodeia as prisões foi aumentado de 25 palmos de
comprimento, o que é em benefício da obra.
4ª – O arrematante querendo aproveitar as águas dos telhados e soteia da Cadeia construiu no
pátio um reservatório podendo conter 1560 palmos cúbicos de água ou 664 barris. Esta obra
que é muito útil em tais estabelecimentos, não estava no contrato. Não está de todo acabada.
5ª – O arrematante construiu nas principais peças um rodapé e um roda-cadeira que não
estavam no projeto e são em benefício dele.
6ª – O arrematante colocou dois caixilhos de vidraças além do que exigia o projeto na sala da
Câmara.
7ª – Em lugar de óculos na fachada lateral da sala da Câmara construíram-se janelas de
vidraças, que são preferíveis.
8ª – O projeto não tendo indicado o modo por que deviam ser feitos os receptáculos das
latrinas, o arrematante está construindo um poço para sumidouro das matérias; como porém
o terreno se presta, sou de parecer e assim indiquei ao arrematante que o poço vertical
comunique com uma pequena galeria de esgoto passando por baixo do alicerce do muro
do pátio e com a inclinação exterior necessária para lançar longe do edifício as dejeções das
latrinas.
9ª – Está por fazer a casa para latrina dentro da qual deve ficar o poço em construção.
10ª – Está por ladrilhar a parte central do pátio; o arrematante lajeou apenas passeios junto
aos muros.
11ª – A balaustrada da galeria do Júri foi substituída por outra mais econômica e menos bela.
12ª – Os capitéis e as bases dos pilares da sala do Júri não foram feitos como na planta; são
menos belos.
13ª – O mesmo acontece às vergas das portas da sala do Júri.
14ª – A entrada da galeria foi modificada fazendo-se as duas escadas em seguida uma da
outra, porém não há nisso inconveniente.
15ª – Está por rebocar a escada do pátio e bem assim várias partes do alicerce formando
envasamento.
16ª – Estão por colocar algumas ferragens.
17ª – O arrematante suprimiu os alisares e diminuiu a ornamentação da sala da Câmara.
18ª – As bases das pilastras do dossel foram modificadas de um modo infeliz.
19ª – Para o esgoto dos telhados e sotea [sic] empregaram-se tubos de zinco e não de cobre
como exigia o projeto. Esta mudança, porém não foi feita unicamente por economia; ela se
tornou indispensável desde que se quis receber as águas da chuva em depósito, pois que o
cobre em contato com a água em tais condições pode dar lugar à formação de sais venenosos.
20ª – Não estando indicada no projeto do engenheiro a pintura das portas, forro e guarnições
de madeira, o arrematante, para garantir a fixidade [sic] da madeira em obra, limitou-se a
pintar algumas portas e a dar três mãos de óleo nas outras superfícies de madeira.
21ª – Verificando as dimensões das diferentes peças da distribuição interna do edifício, achei
que em quase todas havia diferenças ora para menos ora para mais do que exigia a planta.
Estas diferenças, porém que raras vezes chegam a um palmo, são pouco importantes.
22ª – No projeto, cuja execução fez o objeto do contrato, não entrou a construção de uma
enfermaria e a de uma cozinha. Estas duas peças são indispensáveis. Para a enfermaria, como
ela deve ser construída com a mesma solidez e segurança das prisões, julgo que atualmente o
melhor seria aproveitar uma das células maiores rasgando para baixo a janeleta [sic] de grade
correspondente de modo a dar-lhe uma altura dupla a fim de aumentar a ventilação. Para a
cozinha pode construir-se em um dos ângulos do pátio uma peça apropriada.
23ª – Nada posso dizer por mim sobre os materiais e sobre o modo por que foi feita a
construção interna dos muros e alicerces bem como as outras partes do edifício hoje ocultas
e impossíveis de verificar. Entretanto pela comissão nomeada pela Câmara Municipal para
fiscalizar a obra sou informado que sobre esse assunto não há porque censurar.

       À vista destas observações e tendo em consideração que o arrematante adiantou as quantias
correspondentes às prestações que ainda não recebeu e fez obras importantes a que não era
obrigado, sou de parecer que, terminadas as obras indicadas nas observações 4ª, 8ª, 9ª, 10ª,
15ª e 16ª, se considere a obra executada nas condições do contrato.

     Quanto às obras indicadas nas observações 20ª e 22ª, julgo que elas devem fazer objeto de um
contrato à parte.

Deus guarde à V.Exª.

Porto Alegre, 15 de junho de 1865.

Ilmo. Exmo. Sr. Presidente da Província
Francisco Nunes de Miranda

Conforme.

(Transcrição com grafia atualizada de documento avulso integrante do acervo do Arquivo
Histórico do Município de Cachoeira do Sul, por Mirian R. M. Ritzel, em janeiro de 2013.)

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